OLHARES COM SENTIDOS
FERNANDA GIL
PÁGINA PESSOAL
PESCADORES DE SONHOS
A xávega é uma arte de pesca que teve origem na costa Norte, no século XV, tendo sido no passado muito importante economicamente para um grande número de comunidades piscatórias ao longo da costa portuguesa. Alguns autores referem o uso de redes deste tipo desde 3000 A.C., em várias regiões do Mediterrâneo, A primeira notícia do seu uso em Portugal data de 1405 e é referida para o Algarve. Esta arte tem sido desde cedo, alvo de inúmeras controvérsias e regulamentações. No século XVI, foi proibida por decreto régio em Setúbal, Sines, Odemira, Lagos e Tavira. No entanto, esta situação foi alterada por D. Sebastião em 1567, limitando-se a sua utilização apenas à costa sul de Portugal, durante vários séculos. A xávega com as características actuais terá ressurgido no Algarve, em meados do século XVIII, introduzida por pescadores andaluzes e catalães, e na costa norte foi divulgada por espanhóis e franceses. Mais tarde o seu uso estendeu-se a toda a costa portuguesa. Actualmente é praticada em comunidades piscatórias dispersas ao longo da costa, principalmente na costa nordeste.
É uma pesca artesanal feita com rede de cerco e o seu equipamento é composto por um longo cabo com flutuadores, tendo na sua metade de comprimento um saco de rede em forma cónica (xalavar). Antigamente a recolha era feita com a ajuda de juntas de bois e força braçal.
O xalavar é colocado no mar, longe da costa, por uma embarcação, que vai desenrolando a metade do cabo, ficando uma das pontas do mesmo amarrada a um dos dois tractores intervenientes. Os pescadores efectuam o cerco aos cardumes de peixe em alto mar e retornam à praia desenrolando a outra metade do cabo para a sua extremidade ser enrolada ao segundo tractor.
A xávega termina com a chegada a terra e abertura do xalavar (saco de rede de forma cónica) que contém a pescaria.
Nas décadas de 1960 e 1970 verificou-se uma quebra na actividade. Na década de 1980, deu-se uma recuperação generalizada de toda a pesca artesanal, devido, em parte, ao declínio da pesca longínqua, bem como à motorização das embarcações e à utilização de tractores e guinchos para alagem das redes.
A pesca com arte de xávega é praticada por pequenas comunidades piscatórias distribuídas ao longo da costa continental portuguesa. Caracteriza-se por ser uma arte não selectiva e capturar grandes quantidades de pescas acessórias e rejeições.
No Concelho de Almada, operam 8 embarcações com arte de xávega: 3 nas praias da Costa de Caparica e 5 nas praias da Fonte da Telha. As embarcações utilizadas são construídas em madeira, sendo as mais recentes de fibra, e apresentam comprimentos da ordem dos 7 m. Cada “xávega” opera com uma embarcação e três tractores de apoio, e emprega cerca de 20 pessoas, das quais 5 operam na embarcação e as restantes em terra. Quanto ao esforço de pesca, o tempo de arrasto é, em geral, de uma hora e o número de lances efectuado por cada embarcação por dia varia entre 3 e 4. A pesca com arte de xávega apresenta uma sazonalidade marcada, ocorrendo nos meses de Primavera, Verão e Outono (Março a Novembro), 5 dias por semana, sempre que as condições meteorológicas o permitam.
Pescadores de Sonhos conta com o trabalho fotográfico de Armando Romão, que retrata a arte xávega na Costa da Caparica.
(Fonte: Mariana Antunes e outros)