FERNANDA GIL

São tão bonitas as tuas flores, Mãe

Cheiram bem no teu jardim

As cores fazem-nos sentir bem

Talvez nos façam vir mais aqui...


Agora que partiste, Mãe

No teu jardim já não há flores

Já não cheira como outrora, tão bem

Resta a saudade dos odores


Foi difícil, talvez, a vida

Não tão bonita como as tuas flores

Os teus sonhos tiraram-tos, ferida

Deram-te trabalhos, mas também amores


Amores que não se foram com a tua vida

Não secaram com as tuas flores

Continuam florescendo, por entre feridas

Nos nossos corações, por entre as dores


Felizes seremos ao recordar

As tuas flores, e a ti, colorida

Saudade é talvez sinónimo de amar

Mãe, que partiste, mas não és esquecida



E tu, meu Pai, que tanto amaste

E cuidaste de manter colorida

Toda a vida que tanto trabalhaste

Para partires sem nada nesta vida


Não te entristeças, Pai

Que deste quintal de flores já sem vida 

Recordamos o perfume das flores e daqui sai

O que de mais belo nos ensinaste ainda em vida


De bom, de mau, o que aconteceu 

E destas flores belas, efémeras como a vida

O que viveste, vivemos, e morreu

Fica-nos o perfume da essência já vivida


O adeus que te disse já não sei

Que a lembrança no meu coração está bem viva

Como as flores do jardim que lembrei

Agora, que estou tão longe e tão perdida

Fernanda Gil / 2002