top of page
INFINITOS

Não posso dar-te prendas, nem viagens, nem roupas bonitas, nem sequer uma boa escola... às vezes não tenho nada para comer, nem dinheiro para pagar a luz.... que posso eu dar-te? porque queres ficar comigo?
Posso dar-te a minha mão, posso aconchegar-te no meu peito, posso dar-te carinho, proteger-te... Mas proteger-te como? E se vierem buscar-te? Se disserem que não te alimento bem, que não cuido bem de ti?
Dás-me a tua mão? Não largas a minha mão se vierem buscar-te? Eu não deixo que te levem... tenho tanto amor para te dar... talvez com amor consigamos vencer o frio e a fome... talvez consigamos convencer toda a gente de que não precisamos de mais nada..
Aconchega-te, encosta-te a mim, não largues a minha mão...

Fotografia: Quim Fábregas (Helping Hands)
Texto: Fernanda Gil

Guardou a caixinha de segredos só para ela, bem perto do seu coração. 
Tal caixa de Pandora, temeu que um dia alguém a abrisse, não sabendo fazer bom uso dela.
Nunca temos medos em vão, esta vida é tramada...
E num dia de maior descuido, lá foi ela, pululando, feliz por ter encontrado alguém merecedor de partir por esse rio acima, mar adentro talvez... 
A pescaria foi fraca, o espírito de quem não consegue nunca dar foi mais forte, e a caixinha de segredos caiu feita em mil pedaços, despedaçados por uma mentira aguda que lhe doía dentro do peito. Arrependeu-se de a ter guardado tão perto do coração.
Agora que os segredos se perdiam em memórias inquietas de medos confirmados, o rio era pequeno para acolher o que restava.
Ainda hoje vagueia, perdida, tentando reencontrar a paz que lhe davam essas memórias que eram só suas. 

Fotografia: Fernanda Gil
Texto: Fernanda Gil

Todos os dias, sentada naquele banco, esperava que viesses... 
Foi uma espera vã... Ano após ano vi-te partir e nunca voltar, estar sem estar num vaivém nervoso e inconstante
Os assuntos inadiáveis. Importantes. Sempre importantes. Enquanto eu esperava.
Numa interminável instabilidade emocional, disse adeus, e chorei. Pela alegria que senti todos esses anos quando te via chegar, para logo de seguida sentir uma dor profunda ao ver-te voltar as costas e desaparecer numa escuridão sem fim. 
A esperança do abraço, dos momentos partilhados, do amor que nunca foi suficiente.
E como te amei....

Fotografia: Fernanda Gil
Texto: Fernanda Gil

Amanheceu um pouco enevoado e fresco.

Quando cheguei à estação de comboios, era cedo ainda... Não estava praticamente ninguém. Ao olhar para o primeiro banco, deparou-se-me uma visão inimaginável: uma senhora estava sentada e a cerca de 50cm pousava um pardal. Aproximei-me, e continuava lá.

Não resisti e parei. "não foge?", perguntei. Ela encolheu os ombros: “é novinho, deve estar doente". Aproximei-me mais e agachei-me. "será frio?". "Não sei, já falei para ele, mas não se mexeu", afastava o olhar.

Estendi as mãos gentilmente, colocando-lha por cima, tentando que não fugisse. Mas nem se mexeu. Tinha os olhitos fechados. Com as mãos em concha, tentei aquece-lo. "Deve estar doente, é novinho ainda", insistiu ela.

E então o pardalito abriu os olhos e olhou nos meus. Alarguei a abertura das mãos, e deu um pequeno salto para o meu braço. Tornou a olhar o meu sorriso agora aberto e voou.

"Olha, afinal voa! Parecia que ia morrer e agora voa!"

Eu fiquei calada, com um ar certamente aparvalhado, olhando um pequeno pardal que necessitara apenas de um pouco de calor para se libertar e voar.

Fotografia: Maria João Arcanjo
Texto: Fernanda Gil

Há laços que nos unem, sem nunca nos prender. Sabemos que, se assim desejarmos, podemos desfazê-los.
Há laços mais fortes que a vida. Laços que vão para além da vida. Laços fortes, laços únicos, laços que nos dão a segurança dos afectos verdadeiros e profundos.

Fotografia: Fernanda Gil
Texto: Fernanda Gil

na distância dos sentidos
percorremos caminhos 
trilhamos vazios
alongamos incertezas
as vivências, porém
tornarão tudo mais claro na nossa mente 
e no nosso coração
e certo será o momento
do encontro da razão com os sentidos
e saberemos que esse é o rumo
por onde queremos continuar....

Fotografia: Fernanda Gil
Texto: Fernanda Gil

© Fernanda Gil.

Alhos Vedros - 2014 / 2017

bottom of page