
OLHARES COM SENTIDOS
FERNANDA GIL
PÁGINA PESSOAL
OLHARES COM SENTIDOS
VIDAS PERDIDAS
Cantavam silêncios pungentes e dela nada se sabia. Calavam-se histórias de vida ardente, sons da terra que não mais voltariam.
Partiram todos. Não se sabe para onde.
As ruínas choram, amargas, angustiadas de saudade de um tempo que não mais voltará.
O fim chegou ali, sem volta, sem esperança

Fotografia: Fernanda Gil
Texto: Fernanda Gil
Criaram-se raízes que perduraram no tempo. Mas só elas ficaram.
Todos partiram. As casas ruíram. Ruíram vidas, ruíram sonhos.
Os fantasmas dançam, espreitando os afoitos que se atrevem a prevaricar o silêncio.
Há choros de criança gemendo por entre as ruínas do tempo.
As árvores mantêm-se, altivas, lutando contra ventos adversos. Há lamentos soprando baixinho as folhas caídas.
Partiram as gentes. A história ficou. Nas árvores. Nas raízes que as prendem a uma terra que insiste em não querer morrer.
Um dia voltarei lá e já não existirão ruínas para contar a história de um mundo grandioso e diferente. Onde viveram pessoas felizes.
Um dia restarão apenas as árvores. E as raízes.

Fotografia: Fernanda Gil
Texto: Fernanda Gil
Invade-me o cheiro do demo, num pulsar esverdeado de enxofre derramado pelas colinas.
O sangue putrefacto invade as águas contaminadas.
São as almas dos mineiros num grito pungente que invade o tempo e o espaço. São minérios perdidos em vidas que partiram.
Sente-se o pulsar do coração das gentes que ali dedicaram suas vidas sofridas. Almas que ficaram. Almas que vagueiam por entre as ruínas mineiras.

Fotografia: Fernanda Gil
Texto: Fernanda Gil
de luzes se fizeram as horas
era o frio, era a fome, era o cansaço
os minutos passavam devagar
e aquelas luzes sempre a piscar
a humidade entranhava-se-me nos ossos
os olhos a lacrimejar
Por fim as luzes tornaram-se mais fortes
era o carro do apoio a chegar
uma sopa quente, um pão, e uma maçã
mais uma noite que passou tão devagar
a chuva não para de cair
e as luzes, as luzes sempre a piscar
e eu que só queria dormir!

Fotografia: João Ramos
Texto: Fernanda Gil
Quebraram todas as correntes e partiram rumo à sua condição inicial de Cavalos Selvagens. E tudo o que deixaram foram memórias cravadas numa velha parede que ao longo do tempo lhes roubou a Liberdade...

Fotografia: Fernanda Gil
Texto: Dolores Manso
Houve tempo em que todos cantávamos em várias vozes. Houve tempos de jogos, magustos, muita gente que ia e ficava. A porta sempre aberta, o coração também. A casa sempre cheia. Tempos de muita alegria, tempos em que a família era grande, o amor ainda maior. Todos se juntavam ali. As crianças, os jovens e os adultos, e até os velhos, todos partilhavam os momentos de trabalho, de festa, de preocupação, de alegria.
Até que a vida minou a alegria, o companheirismo, o amor, a família.
Há perdões que custam a fluir. Há esquecimentos que jamais fluirão.

Fotografia: Fernanda Gil
Texto: Fernanda Gil