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DIA DA MULHER

Fotografia: Fernanda Gil
(grafitti de autor desconhecido)

Todos os amigos falavam mal dela, dizia ele. Ninguém gostava dela.

Estou bonita? Um sorrisinho de desprezo, sem uma palavra, olhar de revés.

A tua família? Não! Nem pensar, tenho horror a essa gente. 

O amigo desapareceu... nunca mais disse nada.... Oh, não te chateies nem leves a mal, mas ele disse que era por tua causa.
Pouco a pouco todos desapareceram. Se estava feliz, ele ficava doente. Se fazia alguma coisa, arranjava tudo para correr mal, para lhe baixar o espírito e a confiança. 

E o álcool... como bebia! Todo o dia, toda a noite. 

Por vezes tinha até medo de sair de carro com ele. Descontrolado, agressivo, obsessivo...

Tomava todas as decisões sem a sua opinião. Quando dava por isso, já era facto assente e todos sabiam - menos ela. Deixava bem claro que tudo o que vinha dela não valia nada. 

Aos poucos foi compreendendo que estava a perder a identidade, os amigos, a família, a auto-estima, tudo.
Ele sugava-lhe a vida, a energia, a alegria de viver. 

Quando finalmente disse não, tornou-se um perseguidor obsessivo. Seguia-a para todo o lado, fazia-se amigo dos amigos dela, mandava mensagens, telefonemas, e-mails, começou a frequentar os lugares de que ela gostava, e que ele lhe fizera abandonar. Achava-se tão bom que era impossível perder o brinquedo.

Mas então já ela tinha recuperado daquele entorpecimento que a levara a deixar-se envolver naquela situação degradante. Já nada a podia atingir. Nem sequer zangar. Uma a uma foi eliminando todas as ameaças. Com calma e com firmeza.

Estava livre!

08-03-2015

© Fernanda Gil.

Alhos Vedros - 2014 / 2017

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